O conceito surrealista

 

Colocado por André Breton, em seu Manifesto Surrealista de 1924, seria algo como expressão da arte através do “automatismo psíquico em estado puro”, uma manifestação do “eu” sem nenhuma interferência da razão e sem preocupações estéticas ou morais. Na prática algo como a manifestação espontânea do inconsciente, coisa que sempre pratiquei em minhas composições, sair tocando, um se deixar levar, assim como escrever o que vier na cabeça:

“ente doente come diabo em forma de luz carvão que demonstra o ego do real tipo escandaloso de ser que propicia a arte de nada comer”

 

Quantos significados existem nessa frase? Quantos caminhos de desenvolvimento podem ser tomados? Quantas discussões sobre o seu real significado podem acontecer? Indiferente a tudo isso o conceito surreal liberta o artista para tudo isso, sem travas, assim como a verdadeira arte da improvisação, pouco praticada, já que a utilização de licks, padrões, patterns, clichês, frases prontas que são tocadas dentro de sequências pré estipuladas, são a prática mais constante, como:

 ‘o destino a Deus pertence!’ ou mais recente ‘A culpa é do PT!’, ‘Futebol, política e religião não se discute’, ‘Cada macaco no seu galho!’, ‘Eu bem que avisei!’, e por aí vai. São frases prontas que cabem como coringa em qualquer conversa, se encaixam, mas não dizem nada, não vem à tona a alma, o ‘anima’, poderiam ser ditas por qualquer um, inclusive basta começar que o outro conclui. Num conceito surreal as frases tomam outro caminho, tipo:

‘quem avisa come o pão com quiabo no pote da onça melhor amigo o litro de cão’

Arte é liberdade, não é competição, não tem regras, nenhuma mesmo!

 

Música surreal

 

Assim busco soar, surreal. Mas como? Em Tangatu de Maratan, um tango maracatu, tem a música reexposta de trás pra frente, Choros 2 Villa de um original dueto para flauta e clarinete a uma complexa instrumentação quartal com chorus de improviso, De uma pra Outra melodias paralelas que se cruzam, Paolla o paralelismo rítmico, Supernova múltiplas melodias paralelas com improvisos de flauta simultâneos um em cada canal, Sexta um chorus causo, Cuba, muita polirritmia de vozes e improvisos com colagens de áudios onde a poesia de Herendia se transforma do rap ao repente . Tudo sempre atonal com estruturas quartais. Surreal não é tocar jazz em samba e sim tocar jazz com samba como em Fandango, em breve nas plataformas.