INTRODUÇÃO

Venho trabalhando na fusão da música e das artes plásticas, não numa relação de inspiração como tanto de um lado Kandinsky1 em Improvisações2 ou por outro Mussorgsky3 em Quadros de uma Exposição4, e sim pelo desenvolvimento de uma técnica geométrica onde as formas partem das relações entre notas, acordes dentro do círculo cromático, figuras como o triangulo equilátero formam uma tríade aumentada, triangulo retângulo uma tríade menor, seu espelho uma maior, o losango uma escala de tons inteiros, o quadrado um acorde diminuto, e assim por diante.


Somando-se essa realidade geométrica com as relações das frequências, vibrações, do som e da luz comecei a pesquisar, como músico e como pensador, caminhos palpáveis. Questões como o fato das cores misturadas formarem outras cores e a impossibilidade de dois sons se transformarem num terceiro, mesmo num uníssono perfeito entre dois instrumentos podemos reconhecer suas fontes.

Em intervalos podemos até dizer quais as notas que os formam. Esse fator me levou a pesquisar a sobreposição de imagens geométricas que formam cadências musicais, e das cores numa não mistura de tons e sim sobreposição de tons. Para relacionar notas e cores me vali das pesquisas de Scriabin76 e seu Clavier à Lumières5, que segue a corrente do C ser vermelho, numa relação cultural, mística e também por ser a primeira cor do prisma assim como C a primeira nota musical. Nas relações da física a proporção análoga das frequências luz/som teria o C no tom verde e vermelho seria o F.


O que trago aqui é a questão do sistema, como no temperamento ocidental ou no dodecafonismo6 de Schoemberg7, porém esse sistema que estou desenvolvendo é tão passível de se construir músicas ou artes plásticas, como na música a composição é o ponto fundamental que pode ser executado por quem quiser. Aqui amplio esse conceito para as artes, uma vez criada a obra pode ser executada por quem quiser com utilização de materiais e técnicas diversas assim como na arquitetura ou na decoração.

PERCEPÇÃO E REPRESENTAÇÃO

Desdo que conhecemos por produção artística pictórica, pinturas rupestres, vemos uma busca do artista em retratar algo de inspiração visual, passar para o meio “plástico artístico” imagens captadas pela visão dentro de um mundo conhecido.8/9


Geralmente figuras de animais, pessoas, mulheres grávidas, elementos ligados ao cotidiano, porém, de cunho essencial para a sobrevivência e o prazer. Renega-se um tanto a ideia de arte e acredita-se nessas manifestações a representação de cultos ou rituais, formas de atrair o alimento ou a continuidade da própria espécie. Quando passamos a ter o conceito da criação estética? Falo muito com um dos meus filhos que é arqueólogo sobre a possibilidade de que os vasos, urnas e outros objetos  feitos de cerâmica, que ele encontra em sítios que pesquisa no Amapá, nem sempre, obrigatoriamente, teriam de ser para guardar coisas poderiam, quem sabe, ser somente por ser, um objeto decorativo um produto da necessidade da expressão do eu interior. O que quero trazer aqui em minhas conjecturas é o conceito do real e do abstrato na arte quando e como se desenvolveram e se realmente existem.

RETRATISMO

Por milénios as artes plásticas expressam o exterior, como numa necessidade de registro figurativo do ambiente do cotidiano, vamos por um rápido passear histórico:

ANTES DE CRISTO:10/11/12/13/14



ATÉ  1000 DC15/16/17/18/19//20



ENTRE 1000 DC E 1500 DC21/22/23/24


1500 DC25/26

1600 DC - 1700 DC27/28/29/30/31/32

1800 DC33/34/35/36

1900 DC37/38/39/40/41/42/43/44/45/46/47/48/49/50/51

Percebe-se que a ideia da imagem retratável vai sendo destruída progressivamente, o abstrato na verdade não passava de uma distorção da imagem real, de uma fragmentação e muitas vezes uma geometrização do objeto real. Também podemos ver imagens de forma fragmentada ou de forma mega ampliada, como em um microscópio, ou num telescópio e mesmo assim continuar a retratar um universo concreto, existente dentro dos conceitos materiais.52/53/54/55

Creio aí não estar a abstração, pois a ela cabe outro tipo de parâmetro conceitual. Vivemos muito, ainda, um mundo cartesiano, como nos valendo dos palpáveis 5 sentidos para traçar os parâmetros do universo possível. Criamos ferramentas que nos expande esses sentidos, porém ainda assim serão os mesmos sentidos num mesmo universo. Então pergunto, existe a arte da Id? A arte dos loucos ou altistas? De certo suas obras são criadas à partir de conceitos e leituras diferentes deste mesmo universo. Porém o conceito abstrato não está no “caos”, substantivo masculino, confusão, perturbação, desordem e sim no “caos” em que o improvável se prova, se organiza, assim como podemos não viver o infinito, mas podemos prová-lo numa simples contagem numérica, sem fim.

GEOMETRISMO: ARTE OU DECORAÇÃO?

Motivos geométricos são vistos aos montes pela natureza, talvez de tão banais não merecessem grande destaque, mas podemos ver por toda a história da pintura esses princípios abstratos geométricos, desde as primeiras manifestações artísticas, porém sempre, como pano de fundo, sempre como um elemento complementar, um fator estético com funções “decorativas”.56/57//58/59/60/61/62/63/64


O MÍSTICO TAMBÉM ESTÁ MUITO LIGADO AO GEOMÉTRICO:65/66/67/68/69/70/71/72

O ABSTRATO

Ano passado fui premiado no ProAC73 - Publicação de Conteúdo Cultural, Estado de São Paulo, para o desenvolvimento dentro do site www.brasilinstrumental.com, do projeto Análise e Improvisação Musical Online.74 Dentro dele comecei a montar um caminho gráfico para a compreensão dos ciclos e cadências harmônicas, chegando no círculo cromático. Como em um relógio onde 12hs é Dó, 1h Dó#, 2hs Ré e assim por diante.

A interligação das notas que montam os acordes produz uma figura geométrica, uma tríade menor C Eb G forma um triangulo retângulo, a tríade aumentada C E G# um triângulo equilátero, um quadrado uma tétrade diminuta e assim por diante. Então passei a sobrepor esses acordes geométricos formando cadências visuais, FAC linhas traçadas: 5hs - 9hs -12hs sobreposto GBD 7hs - 10hs - 2hs e CEG 12hs - 4hs - 7hs a cadência subdominante dominante tônica em Dó maior. Cada figura teria uma cor, assim se sobrepondo cor a cor. Para as  cores resolvi utilizar a pesquisa de Scriabin em seu Clavièr a Lumière6, onde o C é vermelho ao invés de utilizar as relações de frequências análogas entre as vibrações SOM X LUZ. As relações místicas de Scriabin e o momento da cultura europeia no sec.XIX me são muito estimados e principalmente o desenvolvimento da teosofia por Blavatsky75. Porém um fato me incomodava, que cores misturadas formam uma nova cor e notas misturadas nunca se fundem elas se somam mantendo sua individualidade e por podemos ouvir as notas que formam um acorde uma a uma. Isso me levou a busca de materiais de textura tênue, tintas como aquarela, guache, PVC, etc., onde cada momento era um novo universo translúcido. A partir daí passei a trabalhar com acetatos sobrepostos para construir a individualidade sonora no visual.

O SISTEMA

Com isso creio ter criado um sistema onde as artes plásticas podem ser feitas na concepção intelectual podendo ser executada por qualquer um, assim como na música onde sistemas como o modalismo76, o temperamento77, o dodecafonismo, serialismo78, etc são a base estrutural da composição, esse que proponho,  chamarei de “poliedrofonia79. Aqui também podemos criar um desenho geométrico sonoro onde suas cores estão estipuladas pelas relações com as notas e que será sempre o mesmo assim como na música. Essa técnica pode ser de proveito amplo principalmente nas artes decorativas, podendo ser aplicada com o uso de uma infinidade de materiais.

Nesta obra abaixo resolvi dar um plus artístico individualizado, tomei como inspiração a música de John Coltrane80, Giant Steps81, criada num conceito geométrico, baseada nos triângulos equiláteros ou seja tríades aumentadas, daí teremos B D# G + Eb G B + G B D# gerando as tríades B aum, Eb aum e G aum, que com suas sétimas geram acordes menores Ebm/B - Gm/Eb - Bm/G então o desenho da pintura representa os 3 acordes menores, lembrando do relógio 3hs-6hs-10hs, 7hs-10hs-2hs e 11hs-2h-6hs, essas relações tem dentro outro acorde aumentado (triângulo equilátero) DF#A# 2hs-6hs-10hs. As cores estão baseadas em Scriabin76 numa mística sobreposição, essa sobreposição cria acordes resultantes que trabalham em uma escala não temperada como no centro do desenho onde temos um triângulo equilátero que soaria em quartos de tom. Isso me leva para a próxima etapa, a construção de um sistema de composição musical baseado nessas relações, que acabam revertendo para as artes plásticas num moto perpetuo. Na outra tela de vidro sobreposta temos todas as interligações das notas base da música, Bb, B, D, Eb, F# e G em linhas pretas criando um efeito 3D que traz a relação etérea do som para a pintura. O quadro não tem posição correta para ser visto, podendo ser colocado de acordo com o gosto de cada um, inclusive podendo ter suas telas de vidro invertidas e remontadas ao bel prazer, assim como inversões de acordes.  Link externo abre em uma nova guia ou janelahttps://www.youtube.com/watch?v=x9NYNS0XR5I 82